Sunday, January 22, 2012

Sonhadora


         Ele virou as costas e saiu pela porta.
Ela ainda buscou forças ao perguntar “então é isso?”
Ele, sem olhar pra trás, responde “não existe outra forma!” e vai embora.
Ela imediatamente sucumbe e vai ao chão, em lágrimas, sussurros e gemidos de dor, vazio, perda, impotência. Ela vê a cena se repetindo, porém agora com maior intensidade. Com maior veracidade e dor, muita dor.
Os planos eram outros.  Era ter filhos, construir ou comprar uma casa maior, juntar os trapos além das inseparáveis escovas, que permanentemente se beijavam no banheiro. O plano era seguirem sempre juntos, não importava o que fosse acontecer. Ela estaria lá. Segurando as pontas. Proferindo uma palavra de esperança e sensatez. Buscando acalmá-lo nos momentos de maior angústia, a qual vinha o corroendo por dentro há tempos. O plano era viajarem juntos, curtirem férias juntos, rirem juntos, mesmo que fosse dos descasos da vida. O plano era banalizar a abertura de uma champanhe, era ter algum programa súbito, de pegar o carro, algumas mudas de roupa e irem à estrada em busca de algo diferente. O plano era terem filhos, que fosse mais parecido com um, mas que tivesse tal coisa de outro, e que fossem lindos como os dois o são. O plano, o plano era bem diferente daquele  déja vù, com ele saindo por aquela porta, com a mochila nas costas e nenhuma palavra a mais do que o intendido “é assim que tem que ser”.
Por quê? Por que tem que ser desse jeito? Com dor, vazio, sofrimento entre as partes? Por que é que as pessoas fraquejam a tal ponto de perderem o rumo daqueles planos que, por tanta intensidade, faziam os olhos brilharem. Aquilo se apaga. Até parece que o amor se apaga.
Ele queria mais dela. Ela queria mais dele.
Ela se sentiu impotente. Fraca. Inútil. Pois não conseguiu se fazer valer seus esforços perante tamanha tristeza nos olhos dele. Ele não enxergou mais futuro. Não viu mais a luz no fim do túnel. Não enxergou mais por quem se apaixonou e caía de amores. Ele vinha se decepcionando aos poucos com aquilo que ela fazia pra ele, ou não fazia. Ele perdeu o encanto. Ele não a via mais, como ela era. Porque ela não era mais ela.
Ela ainda queria acreditar que tudo fosse mentira. Que era apenas um momento ruim. Como sonhadora que era, ainda pensava que o importante era fazer diferente e não simplesmente baixar a cabeça para os descasos da vida. Que eram bem maiores que aquilo e que juntos poderiam mudar o mundo – como tanto ele o queria também. Mas ela sozinha não tinha mais forças. Como ela podia sorrir se ele continuava lá, introspectivo, cabisbaixo, cheio de angústias se questionando na vida?! Ela precisava do sorriso dele também. Aquilo que era a fonte de vida dela. A alegria dele, a vivacidade, a vontade de mudar aquele mundo e de tocar os planos. Aqueles planos... A força estava nos dois. Juntos. Dispostos. Capazes. Invencíveis. Mas ele continuou achando que ela era apenas uma sonhadora...


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